Inutilidades poéticas, livro de estreia de Vitor Turba, é obra que conjuga o eco dos mestres que povoam o universo de quem se descobre poeta nos nossos dias de vivência tão prosaica e nos apresenta, na voz do jovem fazedor de versos, os descaminhos possíveis para enfrentar um mundo tão avesso à poesia e, por isso mesmo, dela tão carente. A clara influência enriquecedora já se mostra no título manoelino que o poeta atribui ao seu primeiro volume de versos e percorre a obra como um todo, sublinhando a inutilidade – premissa primeira de toda grande arte – como baliza para a valoração da existência: “importante é quem desenvolve ignorâncias”.
Junto a essa manifesta celebração do cânone mais recente da poesia brasileira, a qual se unem à presença de Manoel de Barros, versos que soam à Drummond (a nuvem vem/carregada de dor e lágrimas,/mas, no calor doído do Rio de Janeiro,/o céu continua azul), ou à Leminski (Eu deixo/a realidade/para esses doidos/&/ doídos), manifesta-se com vigor a voz de um poeta que, não obstante o reconhecimento da tradição literária (que revela o leitor de poesia que precede o criador), demonstra sua dicção própria, matizada, sobretudo, pela busca de lirismo em meio a um universo em que impera o prosaico, o “Dia após dia” da vivência no “piloto automático”.
Alberto Lopes de Melo
