A ATMOSFERA misteriosa daquela noite, banhada pela vibrante emissão amarela do potente refletor de iluminação pública, acentuava o contraste entre luz e sombra, produzindo um belo, mas ao mesmo tempo, sinistro matiz onírico em nosso estado de espírito. Um grande mal estava prestes a acontecer, tínhamos certeza, era só uma questão de tempo. A proximidade de nossos corpos promovia o compartilhamento de nossas sensações. Corações palpitando em sincronizada taquicardia, a boca seca, a cólica no estômago, as mãos úmidas e geladas, a tensão estampada na face, e também o suor escorrendo por dentro dos uniformes. Eram sintomas fraternalmente distribuídos entre nós em porções homogêneas. Reduzidos à condição da presa que aguarda a investida do predador, tornamo-nos todos iguais em nossa miserável insignificância. É sem dúvida, um momento singular, quando cai a máscara da educação, desbota-se o verniz das boas maneiras e a natureza humana revela o seu instinto mais primitivo.
AQUELA equipe estava marcada para morrer. Tudo conspirava para esse desfecho. A posição isolada, o contingente reduzido, o armamento de baixa potência e a proximidade de uma
comunidade violenta, dominada pelo tráfico, naquela noite em que o Rio de Janeiro foi sacudido por Violentos atentados. O detalhe mais sórdido desse jogo de equívocos é que a mortal roleta russa que se formava, há muito era do conhecimento das autoridades de segurança pública. Era preferível expor ao perigo, ou mesmo sacrificar aquele rebanho, a tornar evidente a incompetência da força pública, que desconhecia os locais dos atentados.
