Os Filhos do Interior relata a história do menino nascido no leito de uma família numerosa do oeste paulista que, aos sete anos de idade, começou a fazer suas observações sobre todos os aspectos psicossociais que permeavam seu imaginário.
Retrocedendo ao passado em um momento de pura reflexão, para fazer um apanhado dos melhores treze anos de sua vida. Nada obstante aos demais, porém esses representaram uma peculiaridade insólita.
Porque ficaram escritos no grande livro da memória, com uma opulência de detalhes que saltam aos olhos do leitor a minuciosidade dos fatos, em uma narrativa poética e debochada, fazendo alusão às traquinagens de crianças, suas lendas, costumes e tradições.
Enfatizando o trabalho precoce, de sol a sol, na dureza da lavoura. Especificamente a criação do bicho-da-seda, que seu produto final, recebeu a denominação de “ouro branco”, para coroar a nossa cidade com o título de capital da seda.
Por duas décadas dominou a nossa região, mas depois entrou em declínio, provocando o êxodo rural. Nessa época achávamos tudo maravilhoso, exceto as surras que levávamos. Mesmo assim apanhávamos e, minutos depois, estávamos dando motivos para levar outra sova.
Os percalços que assolavam o nosso caminho não nos impediam de aprender porque, voltávamos da escola numa caminhada de uma hora, ao meio-dia, debaixo de um sol de fritar os miolos.
Nem a dupla jornada que incluía o trabalho de meio período na roça tornava maior o nosso cansaço, servia apenas de aquecimento para um jogo de futebol, no final da tarde. Depois que tomávamos banho e jantávamos, ainda tínhamos as lições de casa por fazer. Só então que cochilávamos em cima dos cadernos, queimando nossos cabelos na lamparina de querosene.
Mas, definitivamente aos meus olhos, o que fez a diferença foi o espírito desbravador de meu pai, que tinha o habito de rezar todos os dias na hora das refeições, estendendo suas mãos por cima de nossas cabeças abençoando a todos, potencializando nossa luz interior, provendo o essencial e nesse contexto fomos agraciados.
