Apesar de calorosamente recebida por alguns, e nomeadamente pelos directores, Maria sentiu desde logo o desconforto de não ser aceite pelo grupo de colegas com a mesma formação académica que a sua. Era gente que entrara na empresa uns anos antes graças a apoios partidários, sem ter passado por qualquer tipo de avaliação, e que não tardaria a ocupar cargos de chefia. Naquela altura, não ouvira ainda falar de assédio moral no local de trabalho, e só percebeu que se tratava de um fenómeno há muito identificado e estudado quando já era vítima dele há duas penosas décadas. Só então soube que o seu inferno tinha nome, e que destruíra outras vidas além da sua, e que, apesar de ser difícil, era possível combate-lo.
Estava na empresa há dez anos quando a chegada de um novo presidente trouxe um grande reordenamento de pessoal. Corriam rumores de que iria haver despedimentos. Hostilizada por esse “grupo de protegidos” que desde o início a rejeitara, e que mantinha intacta toda a sua perniciosa influência, Maria aguardava o seu destino com ansiedade. Mas acabou, afinal, por ser recolocada em funções mais adequadas às suas habilitações académicas e profissionais, e foi assim que voltou à sede da empresa, donde fora incompreensivelmente afastada. Pela primeira vez em muito tempo, voltou a sentir-se entusiasmada e dispôs-se a pôr uma pedra sobre o passado.
Mas Maria iludia-se ao acreditar que a decisão do presidente poria cobro ao irracional assédio do “grupo de protegidos”. Remédio passageiro, esta nova situação apenas forçaria os seus perseguidores a disfarçar temporariamente a perversidade que os animava. E quando Maria se persuadiu de que na empresa tudo parecia estar finalmente a correr dentro da normalidade, descobriu que o seu pesadelo mal começara. O pior estava ainda por vir...
