A experiência de atendimento com idosos é rica, pois se escuta uma biblioteca viva da história, os posicionamentos, as escolhas, as construções, os sonhos, as ideologias, o testemunho de fatos ou eventos passados... mas nem por isso deixa de ser dolorosa. Escutar o sofrimento por escolhas erradas, e não ter tempo para se refazer... testemunhar frustrações ao sepultar de uma vez por todas sonhos não realizados, presenciar os limites corporais para caminhar, falar; acolher o medo da proximidade da morte e muitas outras situações difíceis mexem com a alma do analista, pois o narcisismo é arranhado, em cada sessão, quando se confronta com os limites reais da existência. O exercício de se evitar a contratransferência me parece muito maior. Me pego às vezes pensando: “Meus Deus, não posso ficar assim”. Mas o analista também tem limites, e trabalhar estes limites na análise tem sido um momento profundo de elaboração de conteúdos relativos aos contatos diários, dolorosos e difíceis.
