Eis que uma nesga de nuvem surge tímida aparando os raios do sol. A minha janela ficou na sombra, pelo menos enquanto a nuvem não se dissipasse. Corri, novamente, o olhar pelas vizinhanças, tentando captar alguma coisa que me inspirasse: nada. Aquele deserto enorme, a perder de vista, sem que eu soubesse o que fazer com ele. Lembrei-me da minha infância. Menino mimado pelos pais e pelos avós, filho único de um rico fazendeiro e político das bandas de Patos na Paraíba, cidade quente onde o zênite durava o dia todo e, se duvidasse, ia noite a dentro. Não foram raras as vezes em que assisti aula, à noite, no Colégio Estadual, sem camisa: eu e todo o resto da turma. Os homens, bem entendido. As mulheres, infelizmente, suportavam o calorão abafado de blusa mesmo, não se arriscavam a ficar só de sutiã. Nas axilas a prova do sufoco que passavam: as indefectíveis manchas amareladas de suor. Coisa terrível.
