A figura de Saulo Vasconcelos é imponente, uma figura feita sob medida para grandes palcos, todos aqueles que já o assistiram devem concordar. E sua voz, trabalhada com técnica impecável, acompanha a grandeza da imagem, de modo que é fácil entender a razão de ele ter se tornado um dos maiores astros do teatro musical.
Eu tive o privilégio de assisti-lo várias vezes e sempre me impressionou o domínio absoluto de sua voz em cena, fosse no atormentado Javert de Les Misérables, no Fantasma do clássico de Andrew Lloyd Weber ou na Fera dos contos de fada. O que eu não sabia, entretanto, é que toda aquela potência poderia também servir à comédia e, confesso, que quando seu nome me foi sugerido para a versão brasileira de A Madrinha Embriagada (The Drowsy Chaperone), cheguei a questionar os produtores sobre a escolha. Eu estava obviamente errado, logo constatei, pois Saulo conferiu um charme e graça especiais à criação do produtor Iglesias, em minha adaptação do musical norte-americano para o Brasil. Foi fascinante assistir, durante os ensaios, à adequação de seu timbre e figura para compor a personagem que brinca todo o tempo com a ópera bufa.
Fiquei igualmente impressionado com sua entrega e profissionalismo. Tenho certeza de que Saulo tem muitas histórias para contar. Os grandes artistas são, assim a vida me ensinou, grandes observadores e alguém que, como ele, teve a oportunidade de pisar em grandes palcos do mundo e provar da companhia de vários talentos e mentes privilegiadas, com certeza deve trazer em sua bagagem histórias que nos surpreendem e nos fazem ainda acreditar que é possível continuar.
Aliás, esse sentimento de ir em frente é o que nos inspira seu timbre raro. Sua voz nos aquece a alma e corta o ar com a precisão da flecha bem lançada, chegando célere ao coração do público.
Miguel Falabella
