O direito de permanecer poeta é uma coleção de colchas de retalhos poéticas.
Cada estrofe poderia ser um pequeno poema, que toma nova forma costurado aos demais de forma semi-aleatória. São mosaicos absurdos como sua inspiração: os mosaicos de agoras que constituem os nossos dias.
Minha carne cansada
Espera na estrada
Por ninguém (que me leve a nada)
Uma serpente descansa ao sol
Das bocas absurdas escorre tédio
A cidade morre de meio-dia
O medo mastiga o mundo
Um velho cospe catarro
Na cara de tudo que é sagrado
O mato delira em tudo:
Asfaltos, Concretos, cabeças
(Meu verbo tem loucura vegetal)
Espalho pedaços de mim
Pelas calçadas fatigadas de gente
(A tristeza dessa tarde é sólida)
Assombros nascendo em mentes baldias
Coisa que sangra nas sombras
Água suja de sede
Gozar o nada
Como se nada houvesse
Como se tudo dependesse do abandono